blog.jpg
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________Photo via Sara Earring

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________Photo via Sara Earring

Zero Waste in Fashion - Is it even possible?

by Marie Sztana

DESPERDÍCIO ZERO NA MODA
- SERÁ POSSÍVEL?

por Marie Sztana

 

eng

Last year, I made a conscious decision to increase the amount of stress that comes with designing and creating a final collection by making it zero waste. There were several contributing factors: my strong sustainable values an my lecturers claiming I could not do it. Naturally, I decided to prove them wrong. Designing a final collection for your degree programme and learning a new pattern cutting technique at the same time is not something I would recommend, unless you want to age more quickly and put yourself at risk of a heart attack at the tender age of 22. However, looking back, I would not have done it any differently. Going through this extremely stressful process, I did learn a lot about zero waste pattern cutting, its benefits but also its shortcomings. I also learned how much pressure I can handle.

What is zero waste pattern cutting?
The term describes the process of cutting fabric in such a way that there is no waste. Cuts are placed strategically in the fabric so that there is not a scrap left at the end. Why is that important? Normally, about 15 to 25 percent of fabric intended for clothing ends up on the cutting room floor with no intention of use. The fashion industry is already a highly wasteful industry, so eliminating the waste created by pattern cutting would make a huge difference. Remember that a substantial amount of resources already went into the production of the fabric. Leaving up to a quarter of it unused on the floor is such a waste and a missed opportunity

What leads to this wasteful practice?
Because of the fast-paced environment of the industry demanding super-quick turnaround, designers have little time to develop their designs. After ticking the main boxes of fit, trend and fabric their designs are sent to a garment technician. The issue of fabric waste and lay planning is left to the technician, who has so many other things to think about and consider. Suggestions to reduce waste are rarely made and left to C.A.D. (Computer aided design) software, which also has its problems. Waste or off-cuts literarily fall through the cracks.

In fairness, fabric waste is a serious problem not just in the fashion industry. The issue is present in universities where fashion design is taught and even in our homes for home sewers. Tons of fabric is thrown away and ends up in landfills. Zero waste pattern cutting would eliminate fabric waste. It is, at its core, a simple idea.

However, simple ideas can be difficult to execute. In my research and my own practice, I discovered a few problems. Very quickly I realised that I was making many more toiles than my class mates. This was because when something did not fit, I had to remake the whole garment. I even roped in a mathematician to see if he could come up with a formula to calculate how big my garments would be before making them. I ended up breaking the mathematician.

 

 

There was no simple mathematical formula to determine the size of the garments before I actually made them. I then ended up working in half-scale. But even that meant I was using quite a lot of fabric and paper in the prosses. In the end, I accomplished my goal and created a collection with only nine meters of fabric and no waste. The process leading up to it, I regret to say, certainly was not zero waste.

However, is something ever truly zero waste? The zero-waste movement is not just present in the fashion industry but is gaining traction in everyday life. We see those mason jars filled with what is supposedly one year’s worth of waste on Instagram. Buying package free groceries is a great thing - but the way those groceries were transported to the supermarket was not package free. But just because it is not perfect does not mean we should despair and give up.

When it comes to sustainability small changes can make all the difference.
And there is good news. Even if zero waste still has a long way to go, new technologies and developments can make it into a more viable option. For fashion design, 3D - modelling systems that let you design garments digitally to see the outcome virtually will make waste reduction in pattern cutting much easier. At the Future Fabric Expo this January, I talked to developers and learned that the technology is not far off and is being developed for conventional pattern cutting. Laser cutting is another option, delivering accurate cuts – and in zero waste accuracy is everything. We need to rethink fashion. Tradition is rooted in our history and it is important, but if we don’t look to the future we will not be able to make the necessary chances and solve a problem that will not go away unless we take action.

This leads me back to my own experience. When creating my final collection, I found that the tried and tested method we were taught - starting with a working drawing, creating a 2D pattern, then making a toile – did not work for me. I decided to experiment with a ‘make first, design later’ approach. It was difficult to predict how a zero-waste garment would look before making it. This is a definite shortcoming - but what a fantastic feeling when it all comes together, and you realise you made a jumpsuit instead of a pair of trousers. There were other surprises. Making a skirt from a rectangle, cutting it into a triangle and then sewing it together resulted in a hexagonal hem instead of a “conventional” round hem. But who said hems need to be round anyway? Zero waste clothes just look a bit different. But in a constantly changing world why should our perspective on fashion not change? The technology exists, it is up to us to use it.

 
 

pt

No ano passado, tomei conscientemente a decisão de aumentar o stress que vem com o criar e desenhar uma colecção final, tornando-a zero waste. Houve vários factores que contribuíram para isso: os meus fortes valores de sustentabilidade e o facto de os meus professores teimarem (alegarem) que eu não conseguiria faze-lo.

Naturalmente, decidi provar-lhes que estavam errados. Desenhar uma colecção final para o teu projecto de licenciatura e ao mesmo tempo aprender uma nova técnica de corte padrão não é algo que eu recomende, a não ser que queiras envelhecer rápidamente e arriscares ter um ataque cardíaco na tenra idade de 22 anos. Contudo, olhando para trás, eu não o teria feito de outra forma. Ter passado por este processo extremamente stressante , aprendi muito sobre a técnica de corte de moldes zero waste. Não só os seus benefícios mas também o que falta melhorar essa técnica. Com isso também me apercebi de quanta pressão consigo suportar.

O que é técnica de corte padrão zero waste?
O termo descreve o processo do corte do tecido de forma a não haver desperdício. Os moldes são colocados estrategicamente no tecido de forma a que no final não reste nenhum pedacinho. Porque é isso importante? Normalmente, cerca 15 a 25% do tecido pensado para costurar acaba no chão da sala de corte não sendo aproveitado (usado). A indústria da moda só por si já é altamente desperdiçadora, assim eliminando o desperdício criado pelo corte dos moldes faria uma grande diferença. Não se esqueçam que uma substancial quantidade de recursos já foram para a produção do tecido. Deixando até um quarto do tecido, sem uso, no chão  é um grande desperdício e uma oportunidade perdida.

O que leva a esta prática de desperdício?
Devido ao ritmo acelerado que envolve esta indústria terá que haver uma recuperação super rápida, ficando  os designers com muito pouco tempo para desenvolver as sua criações. Depois de verificar os tecidos,  que as roupas vestem bem e que seguem as  tendências, as suas criações são enviadas para o técnico de vestuário.
A questão dos resíduos de tecido e o planeamento do corte dos moldes é deixado a cargo do técnico, que já tem tantas outras coisas em que pensar e considerar. Sugestões para a redução de desperdício raramente são feitas e são deixadas para o programa C.A.D. que de si já tem os seus problemas. Desperdício ou pequenos restos, literalmente vão parar ao caixote do lixo.

Para ser justo, o desperdício de tecido é um problema sério não apenas na indústria da moda. A questão está presente nas universidades onde o design de moda é ensinado e até nos esgotos das nossas casas. Toneladas de tecidos são deitadas fora e acabam em aterros sanitários. O corte zero waste eliminaria o desperdício de tecido. É, na sua essência, uma ideia simples.

No entanto, ideias simples podem ser difíceis de executar. Na minha pesquisa e na minha própria prática, descobri alguns problemas. Muito rapidamente, percebi que estava a ter muito mais trabalho do que os meus colegas de classe. Isto porque quando algo não encaixava, eu tinha que refazer a peça inteira.

 

Eu até pedi ajuda a um matemático para ver se ele poderia criar uma fórmula para calcular o tamanho das minhas roupas antes de as confeccionar. Acabei por desistir da matemática. Não havia uma fórmula matemática simples para determinar o tamanho das roupas antes de eu as confeccionar. Acabei por trabalhar em meia escala. Mas mesmo isso significava que eu estava a usar bastante tecido. No final, cumpri meu objetivo e criei uma colecção com apenas nove metros de tecido e sem desperdício. O processo que me levou até aí, lamento dizer, certamente não foi desperdício zero.

De qualquer forma, alguma coisa é realmente zero waste? O movimento de desperdício zero não está presente apenas na indústria da moda, está também a ganhar força no dia a dia. Vemos aqueles frascos de feijão cheios com o que supostamente vale um ano de desperdício no Instagram. Comprar mantimentos sem pacote é uma grande coisa - mas a maneira como esses mantimentos foram transportados para o supermercado não era livre de pacotes. Ainda assim, só porque não é perfeito, não significa que devemos desesperar e desistir.

Quando se trata de sustentabilidade, pequenas mudanças podem fazer toda a diferença.
E há boas notícias. Mesmo que o desperdício zero ainda tenha um longo caminho a percorrer, novas tecnologias e desenvolvimentos podem torná-lo uma opção mais viável. Para o design de moda, os sistemas de modelagem em 3D que permitem projectar roupas digitalmente para ver o resultado praticamente facilitarão muito a redução de resíduos no corte de padrões. Na Future Fabric Expo, em Janeiro, conversei com os responsáveis por desenvolver esta tecnologia e aprendi que não está muito distante e que está a ser desenvolvida para o corte convencional de moldes. O corte a laser é outra opção, fornecendo cortes precisos - e, com zero desperdício, a precisão é tudo. Precisamos repensar a moda. A tradição está enraizada na nossa história e é importante, mas se não olharmos para o futuro, não seremos capazes de criar as oportunidades necessárias e resolver um problema que não desaparecerá a menos que tomemos medidas. 

E isso leva-me de volta à minha própria experiência. Ao criar a minha colecção final, descobri que o método testado e aprovado que aprendemos - começando com um desenho de, criando um padrão 2D e depois criando um teste - não funcionou para mim. Decidi experimentar uma abordagem do tipo "faz primeiro, projecta depois". Era difícil prever como seria uma peça com desperdício zero antes de confeccioná-la. Essa é uma falha definitiva - mas é uma sensação fantástica quando tudo se encaixa, e percebes que fizeste um macacão em vez de umas calças. Houve outras surpresas. Fazer uma saia a partir de um rectângulo, cortá-la num triângulo e costurá-la acabou por resultar numa bainha hexagonal em vez de uma bainha redonda “convencional”. Mas quem disse que as bainhas têm de ser redondas? As roupas feitas a partir de um conceito zero waste parecem um pouco diferentes. Mas num mundo em constante mudança, por não mudar a nossa perspectiva sobre a moda? A tecnologia existe, cabe a nós usá-la.